Caros, caras,
Meus deuses! Tanta coisa aparentemente acontecendo e ninguém se digna a dar notícias. Quantas promessas fazemos e quão poucas cumprimos, não é mesmo?
Aproveito, então, para deixar registrado aqui o lançamento do livro Fábulas Farsas, de nosso amigo, Gil Veloso, que aconteceu no último dia 16, na Livraria da Vila, nos Jardins. Um sucesso, com direito a leitura feita pela atriz Grace Gianoukas, que vocês podem conferir no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=wGcHKuQmuOE
Eu também li uma das fábulas.
Vejam abaixo, e divulguem se puderem, por favor, mensagem que a Linda recebeu da Cris Mira.
Acabei de terminar um blog do meu livro: Algum Sertão.
Como ainda não consegui o patrocínio, resolvi usar parte
do material coletado na viagem.
Ainda estou dando uns acabamentos.
Acesse e divulgue: http://algumsertao.wordpress.com .
Beijo saudoso da
Cristina
Continuo aguardando a manifestação e a postagem das estórias de nossos(as) colegas. Ainda estamos pensando em marcar um encontro para levar adiante a experiência da "contação". Alguém tem alguma sugestão. E o segundo módulo do curso? Vamos marcar uma data ainda neste ano?
Por fim, mas não por último, gostaria de parabenizar a Rosa, nossa querida amiga responsável pela Roda de Leituras de Guimarães Rosa no IEB e pelo Sarau, que faz aniversário nesta sexta, dia 2. Aproveito também para lembrá-los de que domingo, dia 4, teremos o Sarau no Espaço Alberico. A partir das 19h. Espero encontrá-los. Lá também teremos a oportunidade de abraçar a Rosa pessoalmente.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Um dedo de prosa
Só para jogar um pouco de conversa fora, para um dedo de prosa, como se diz gaúcha ou mineiramente por este Brasil, começo falando mais uma vez de cheesecake. Alguém entrou lá no site da Luana?
Linda, você tinha ficado de fazer as encomendas p'ra gente provar.
Vocês viram que ela está no caderno Paladar do Estadão de hoje, com a historinha de seu romance e também com a campanha do cheesecake para arrecadar fundos para a ONG Banco de Alimentos. O que vocês acham de a gente marcar uma data para uma nova troca de estórias e regá-la a cheesecakes encomendados à Luana?
Celina, Celininha, você se comprometeu publicamente a postar suas estórias, não é? Cadê? Cadê você?
Bem, como vocês já sabem a Roda de Leituras de Guimarães Rosa no IEB mudou para as terças, das 18 às 20h, como sempre. Desde as duas últimas terças, as leituras e papos se referem a alguns dos lugares que Rosa descreve no Grande Sertão. Nosso colega Clayton apresentou fotos e vídeo de sua visita neste ano à região do Morro da Garça e o encontro desta última terça buscou identificar as descrições de Rosa dos pontos visitados, entre outros. O tema continua na próxima terça.
Antes disso, em um encontro anterior tivemos a leitura de algumas das estórias de "Fábulas Farsas", de Gil Veloso. Livro cujo lançamento está marcado para o dia 16 de setembro, quarta-feira, na Livraria da Vila [Jardins], na Alameda Lorena, 1731, a partir das 18:30 horas. Todos os presentes à leitura no IEB ficaram muito curiosos para conhecer as outras estórias do livro. Espero que nos encontremos lá.
De resto, ainda aguardamos as estórias que a Reginarreca tem a nos contar de sua visita a Cordisburgo para a Semana Roseana deste ano.
Linda, você tinha ficado de fazer as encomendas p'ra gente provar.
Vocês viram que ela está no caderno Paladar do Estadão de hoje, com a historinha de seu romance e também com a campanha do cheesecake para arrecadar fundos para a ONG Banco de Alimentos. O que vocês acham de a gente marcar uma data para uma nova troca de estórias e regá-la a cheesecakes encomendados à Luana?
Celina, Celininha, você se comprometeu publicamente a postar suas estórias, não é? Cadê? Cadê você?
Bem, como vocês já sabem a Roda de Leituras de Guimarães Rosa no IEB mudou para as terças, das 18 às 20h, como sempre. Desde as duas últimas terças, as leituras e papos se referem a alguns dos lugares que Rosa descreve no Grande Sertão. Nosso colega Clayton apresentou fotos e vídeo de sua visita neste ano à região do Morro da Garça e o encontro desta última terça buscou identificar as descrições de Rosa dos pontos visitados, entre outros. O tema continua na próxima terça.
Antes disso, em um encontro anterior tivemos a leitura de algumas das estórias de "Fábulas Farsas", de Gil Veloso. Livro cujo lançamento está marcado para o dia 16 de setembro, quarta-feira, na Livraria da Vila [Jardins], na Alameda Lorena, 1731, a partir das 18:30 horas. Todos os presentes à leitura no IEB ficaram muito curiosos para conhecer as outras estórias do livro. Espero que nos encontremos lá.
De resto, ainda aguardamos as estórias que a Reginarreca tem a nos contar de sua visita a Cordisburgo para a Semana Roseana deste ano.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Entrando finalmente na brincadeira...
Queridos contadores,
Lamento muito todo esse tempo que não participei do blog, mas já estou me atualizando e lendo todos os causos postados.
Claro que tenho que agradecer à Fê que me lembrou, com suas estórias, o maravilhoso curso de Dôra e ao nosso querido Moisés por criar o blog e não desistir dele mesmo não tendo muitas manifestações. Obrigada pelos parabéns e com muiiiiiiiitttttoooo atraso te desejo meus parabéns também!!
Na próxima postagem é a minha vez de brincar e contar uma estorinha...
Beijos,
Celina.
Lamento muito todo esse tempo que não participei do blog, mas já estou me atualizando e lendo todos os causos postados.
Claro que tenho que agradecer à Fê que me lembrou, com suas estórias, o maravilhoso curso de Dôra e ao nosso querido Moisés por criar o blog e não desistir dele mesmo não tendo muitas manifestações. Obrigada pelos parabéns e com muiiiiiiiitttttoooo atraso te desejo meus parabéns também!!
Na próxima postagem é a minha vez de brincar e contar uma estorinha...
Beijos,
Celina.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Ciranda, cirandinha... vamos todos cirandar?
Contadores queridos,
Depois de uma longa longa LONGA demora (não é mesmo, Moisés?), deixo aqui para vocês duas das minhas estórias do nosso saudoso curso com a mestra Dôra. E que tal já começarmos a pensar em datas possíveis para o módulo II? Não sei quanto a vocês, mas eu já estou com muitas saudades das nossas cirandas ao vivo, quando a gente pode "garrá no cunvercê" até não mais poder. E a Reca deve ter voltado cheia de "causos" lá de Cordis que eu ainda não ouvi!!!
Beijos e abraços carinhosos... e senta que lá vem estória!
Escularápio
Um escularápio foi chamado para tratar de uma rica senhora que sofria de catarata. Sendo, porém, desonesto, o nosso querido amigo, sempre que ia visitar a rica velha, furtava-lhe um objeto precioso. Quando acabaram os objetos preciosos, ele começou, despudoradamente, a levar-lhe também os móveis, um a um.
Afinal, certo dia, não tendo mãos o que roubar, deixou de visitar a velha. Mas, não contente com isso, sapeccou-lhe em cima uma conta terrível, capaz de abalar mesmo a fortuna do mais rico catarático.
A velha protestou, dizendo que não pagava, e a coisa foi para o tribunal. E foi no tribunal que a velha declarou o motivo de sua recusa em pagar. Disse:
"Não posso pagar a conta do senhor escularápio, do doutor médico, porque eu estou com a vista pior do que quando ele começou a me tratar. No início do tratamento eu ainda via alguma coisa. Mas agora, não consigo enxergar nem os móveis lá da sala".
(Millôr Fernandes)
Nascimento do menino
Da mulher - que me chamaram: ela não estava conseguindo botar seu filho no mundo. E era noite de luar, essa mulher assistindo num pobre rancho. Nem rancho, só um papiri à-toa. Eu fui. Abri, destapei a porta - que era simples encostada, pois que tinha porta; só não alembro se era um couro de boi ou um tranço de buriti. Entrei no olho da casa, lua me esperou lá fora. Mulher tão precisada: pobre que não teria o com que para uma caixa-de-fósforo. E ali era um povoado só de papudos e pernósticos. A mulher me viu, da esteira em que estava se jazendo, no pouco chão, olhos dela alumiaram de pavores. Eu tirei da algibeira um cédula de dinheiro, e falei: - "Toma, filha de Cristo, senhora dona: compra um agasalho para esse que vai nascer defendido e são, e que deve de se chamar Riobaldo..." Digo ao senhor: e foi menino nascendo. Com as lágrimas nos olhos, aquela mulher rebeijou minha mão... Alto eu disse, no me despedir: - "Minha Senhora Dona: um menino nasceu - o mundo tornou a começar!..." e saí para as luas.
(João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas)
Travessia, ou a terceira margem
Foi um fato que se deu um dia... Em agosto de 2008.
Era missa de sétimo dia do meu pai, na Associação da Comunidade Japonesa Shimane-Ken, no Bairro da Saúde, da província onde meu pai nasceu quase 90 anos atrás. Convidamos um monge budista, do templo Soto Zoshu, da Liberdade.
Meu pai ajudou muito para manter a cultura e a tradição japonesa e também ajudou na construção e na manutenção, tanto da Associação como do Templo.
E o monge começou dizendo:
“O pai de vocês deixou este mundo, e ele está fazendo uma viagem. Pelo rio. Faz a travessia. Ele não está mais nesta margem. Mas também não chegou na outra margem. Ele está no meio. Está na terceira margem do rio. Para que ele faça uma boa travessia, precisamos fazer oferendas e orações. De sete em sete dias, até se completarem 49 dias, que são sete semanas, ofereçam aquilo de que ele gostava: comidas, flores... E vamos lhe desejar uma boa viagem. E vamos fazer outra missa, quando se completarem os 49 dias.
“Durante esse período, não mexam no seu quarto, não mexam nas coisas pessoais. Ele ainda está presente. Não deixou ainda o seu lugar. Não chorem. Não se atormentem. Se lamentarem a morte dele, ele vai ficar atrapalhado. Não vai fazer uma boa travessia. Lembrem-se da vida dele. Dos seus ensinamentos. Da travessia que fez em vida...”
A minha mãe não falou “ou você vai ou você fique”. Eu vi a imagem dela bonita, tranqüila, na cabeceira da cama do hospital. Ela estava esperando por ele, para fazerem a travessia juntos.
Temos de agradecer à amiga Rosa Haruco Tane, nossa anfitriã da Roda de Leitura de Guimarães Rosa, no IEB, na USP, por esta história. Obrigado, Rosa.
Comentem, por favor. Compartilhem.
Era missa de sétimo dia do meu pai, na Associação da Comunidade Japonesa Shimane-Ken, no Bairro da Saúde, da província onde meu pai nasceu quase 90 anos atrás. Convidamos um monge budista, do templo Soto Zoshu, da Liberdade.
Meu pai ajudou muito para manter a cultura e a tradição japonesa e também ajudou na construção e na manutenção, tanto da Associação como do Templo.
E o monge começou dizendo:
“O pai de vocês deixou este mundo, e ele está fazendo uma viagem. Pelo rio. Faz a travessia. Ele não está mais nesta margem. Mas também não chegou na outra margem. Ele está no meio. Está na terceira margem do rio. Para que ele faça uma boa travessia, precisamos fazer oferendas e orações. De sete em sete dias, até se completarem 49 dias, que são sete semanas, ofereçam aquilo de que ele gostava: comidas, flores... E vamos lhe desejar uma boa viagem. E vamos fazer outra missa, quando se completarem os 49 dias.
“Durante esse período, não mexam no seu quarto, não mexam nas coisas pessoais. Ele ainda está presente. Não deixou ainda o seu lugar. Não chorem. Não se atormentem. Se lamentarem a morte dele, ele vai ficar atrapalhado. Não vai fazer uma boa travessia. Lembrem-se da vida dele. Dos seus ensinamentos. Da travessia que fez em vida...”
A minha mãe não falou “ou você vai ou você fique”. Eu vi a imagem dela bonita, tranqüila, na cabeceira da cama do hospital. Ela estava esperando por ele, para fazerem a travessia juntos.
Temos de agradecer à amiga Rosa Haruco Tane, nossa anfitriã da Roda de Leitura de Guimarães Rosa, no IEB, na USP, por esta história. Obrigado, Rosa.
Comentem, por favor. Compartilhem.
Uma estória-projeto de cem delícias
Caros, caras,
uma vez que ainda aguardo a manifestação dos(as) colegas "contadores de estórias", que, ao que parece, ainda não se animaram a dançar a ciranda, apresento-lhes aqui o novo projeto de nossa colega Luana Azeredo, juntamente com sua historinha, editada por mim, [licencinha, Luana], a qual podemos chamar de "Luana e os Cheesecakes". Ela mesma nos diz o seguinte:
Caros contadores de estórias,
sei que andei sumida, mas andei tramando minha própria história, ou mudando seu rumo. E é por isso que vnho contar para vocês a história de meu novo projeto, do qual vocês podem fazer parte.
Aí, então, a historinha:
Luana e os Cheesecakes
Eu nunca tinha dado bola para cheesecakes. A bem da verdade, eu só gostava mesmo é de bolo seco (daquele gostoso bolo caseiro para tomar com café) e de sorvete. Humm, como eu adorava sorvete! A ponto de dizer que me casaria com o homem que chegasse na minha casa com um pote deles na mão.
E foi mais ou menos assim que aconteceu. Eu o conheci naquele começo de ano de muitas determinações e de novas tentativas. Na segunda vez em que foi me buscar em casa, ele me abraçou e me entregou aquele isopor cheio de delicioso frozen yogurt. Mas o homem que viria com o sorvete, e com quem eu já completei mais de dez anos de alegrias e muitos outros sorvetes, também seria aquele que me apresentaria para o mundo maravilhoso dos cheesecakes, seu doce preferido.
Quando o ouvi dizer “este é meu doce preferido” pela primeira vez, pensei: curioso este meu namorado. Na segunda vez, decidi sair por aí com ele à caça do melhor cheesecake da cidade. Provamos muitos, até nos empapuçar, e elegemos o cheesecake do Viena como o mais próximo do original (apesar das coberturas pouco ortodoxas como goiabada e gelatina de morango).
Mas como eu poderia dizer que era próximo do original se eu nunca tinha provado um? E foi assim que, na minha primeira viagem para Nova York, comi todos os cheesecakes aos quais tinha direito. Do cremoso da Dean and Deluca, passando pelo gigante da Carnigie Deli, me aventurando pelos mais populares (como Junior’s e Cheesecake Factory) e me descobrindo nos mais inusitados, o Italiano da Monteleone’s, o de abóbora do Whole Foods Market e o de limão da Yura and Company.
E como, afinal, eu passei de caçadora a fazedora de cheesecakes? Foi uma capa de revista que me jogou de vez nesta brincadeira, que, seguida de muitos outros livros, formas especiais e dezenas de testes, me trouxe até aqui.
O Projeto:
Cem cheesecakes diferentes serão feitos ao longo de 50 dias em uma mini cozinha, e vendidos por R$ 100,00 cada um, deixando felizes a mim, Luana, que vou poder finalmente experimentar todas as receitas que sempre quis, a quem comprar, por poder comer esta delícia - muitos dizem que o meu cheesecake é o mais gostoso que já comeram - e a ONG Banco de Alimentos que ficará com 70% do valor total arrecadado.
Tudo isso entre 17 de agosto e 27 de outubro. Maiores informações no blog:
http://100cheesecakes.wordpress.com
uma vez que ainda aguardo a manifestação dos(as) colegas "contadores de estórias", que, ao que parece, ainda não se animaram a dançar a ciranda, apresento-lhes aqui o novo projeto de nossa colega Luana Azeredo, juntamente com sua historinha, editada por mim, [licencinha, Luana], a qual podemos chamar de "Luana e os Cheesecakes". Ela mesma nos diz o seguinte:
Caros contadores de estórias,
sei que andei sumida, mas andei tramando minha própria história, ou mudando seu rumo. E é por isso que vnho contar para vocês a história de meu novo projeto, do qual vocês podem fazer parte.
Aí, então, a historinha:
Luana e os Cheesecakes
Eu nunca tinha dado bola para cheesecakes. A bem da verdade, eu só gostava mesmo é de bolo seco (daquele gostoso bolo caseiro para tomar com café) e de sorvete. Humm, como eu adorava sorvete! A ponto de dizer que me casaria com o homem que chegasse na minha casa com um pote deles na mão.
E foi mais ou menos assim que aconteceu. Eu o conheci naquele começo de ano de muitas determinações e de novas tentativas. Na segunda vez em que foi me buscar em casa, ele me abraçou e me entregou aquele isopor cheio de delicioso frozen yogurt. Mas o homem que viria com o sorvete, e com quem eu já completei mais de dez anos de alegrias e muitos outros sorvetes, também seria aquele que me apresentaria para o mundo maravilhoso dos cheesecakes, seu doce preferido.
Quando o ouvi dizer “este é meu doce preferido” pela primeira vez, pensei: curioso este meu namorado. Na segunda vez, decidi sair por aí com ele à caça do melhor cheesecake da cidade. Provamos muitos, até nos empapuçar, e elegemos o cheesecake do Viena como o mais próximo do original (apesar das coberturas pouco ortodoxas como goiabada e gelatina de morango).
Mas como eu poderia dizer que era próximo do original se eu nunca tinha provado um? E foi assim que, na minha primeira viagem para Nova York, comi todos os cheesecakes aos quais tinha direito. Do cremoso da Dean and Deluca, passando pelo gigante da Carnigie Deli, me aventurando pelos mais populares (como Junior’s e Cheesecake Factory) e me descobrindo nos mais inusitados, o Italiano da Monteleone’s, o de abóbora do Whole Foods Market e o de limão da Yura and Company.
E como, afinal, eu passei de caçadora a fazedora de cheesecakes? Foi uma capa de revista que me jogou de vez nesta brincadeira, que, seguida de muitos outros livros, formas especiais e dezenas de testes, me trouxe até aqui.
O Projeto:
Cem cheesecakes diferentes serão feitos ao longo de 50 dias em uma mini cozinha, e vendidos por R$ 100,00 cada um, deixando felizes a mim, Luana, que vou poder finalmente experimentar todas as receitas que sempre quis, a quem comprar, por poder comer esta delícia - muitos dizem que o meu cheesecake é o mais gostoso que já comeram - e a ONG Banco de Alimentos que ficará com 70% do valor total arrecadado.
Tudo isso entre 17 de agosto e 27 de outubro. Maiores informações no blog:
http://100cheesecakes.wordpress.com
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Um flagrante da estreia dos contadores
Amigos, eis aí um registro da estreia de alguns dos contadores no Sarau na Biblioteca Alceu Amoroso Lima. Da esquerda para a direita: Regina, Linda, Moisés, Celina e Fernanda. A apresentação: um jogral do poema Um Chamado João, que Drummond dedicou a Guimarães Rosa dois dias depois de seu encantamento. Agradecemos a nossa colega de curso e amiga Erika pela foto.
Uma 'estória' de Kafka
Cá estou novamente, na tentativa de alimentar de 'estórias' este blogue que, ao que parece, ainda não serviu de veículo para nenhum(a) de meus/minhas companheiros(as) de curso. À exceção, é claro, justiça seja feita, das queridíssimas Linda e Maristela Guedes. E aí pessoal, ninguém mais se anima?
Aproveito para cumprimentar, com um pouquinho de atraso, nossa querida Celina que completou mais um aninho, no último dia 17, desejando-lhe uma nova idade cheia de alegria, de paz, de amor e de muitas 'estórias'. Junto conosco, de preferência, e com quem mais ela quiser.
Bem... continuemos.
A Folha de S.Paulo publicou neste domingo uma entrevista com Modesto Carone, principal tradutor de Kafka, a respeito do autor tcheco e do lançamento em livro, no final deste mês, de uma reunião de ensaios dele, Carone, sobre o autor. Ao final da matéria, o jornal publica um conto pouco conhecido de Kafka, com o comentário do tradutor, que faz parte do livro a ser lançado. O conto se intitula "Pequena Fábula" e acho que vale a pena transcrever e contar. Aí vai:
"Ah", disse o rato, "o mundo torna-se a cada dia mais estreito. A princípio era tão vasto que me dava medo, eu continuava correndo e me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra que já estou no último quarto e lá no canto fica a ratoeira para a qual eu corro". - "Você só precisa mudar de direção", disse o gato, e devorou-o.
Aproveito para cumprimentar, com um pouquinho de atraso, nossa querida Celina que completou mais um aninho, no último dia 17, desejando-lhe uma nova idade cheia de alegria, de paz, de amor e de muitas 'estórias'. Junto conosco, de preferência, e com quem mais ela quiser.
Bem... continuemos.
A Folha de S.Paulo publicou neste domingo uma entrevista com Modesto Carone, principal tradutor de Kafka, a respeito do autor tcheco e do lançamento em livro, no final deste mês, de uma reunião de ensaios dele, Carone, sobre o autor. Ao final da matéria, o jornal publica um conto pouco conhecido de Kafka, com o comentário do tradutor, que faz parte do livro a ser lançado. O conto se intitula "Pequena Fábula" e acho que vale a pena transcrever e contar. Aí vai:
"Ah", disse o rato, "o mundo torna-se a cada dia mais estreito. A princípio era tão vasto que me dava medo, eu continuava correndo e me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra que já estou no último quarto e lá no canto fica a ratoeira para a qual eu corro". - "Você só precisa mudar de direção", disse o gato, e devorou-o.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Estreia de contadores de estórias
É claro que eu não podia deixar de registrar nossa estreia como contadores de estórias no palco da Biblioteca Alceu Amoroso Lima, no Sarau do último sábado, dia 27, em comemoração ao 101º aniversário do nascimento de Guimarães Rosa. Um sucesso. E não poderia também deixar de agradecer o carinho de todos os presentes, inclusive daqueles já mais experimentados na arte de subir ao palco, que transformaram o Sarau numa grande festa rosiana. E, mais do que tudo, num grande encontro de amigos que compartilham o mesmo espírito e a mesma alegria.
Fernandinha, Celina, Regina, Linda e eu, armados de uma coragem fenomenal, apresentamos, para abrir o Sarau, em forma de jogral, o poema Um Chamado João, que Carlos Drummond de Andrade escreveu e dedicou ao Rosa dois dias depois de seu encantamento. Antes disso, ouvimos pela voz do próprio Rosa, as frases que encerraram seu discurso de posse na ABL: "O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas".
Adoramos a experiência. Esperamos, agora, que ela tenha servido para incentivar nossos outros colegas a porem em prática o aprendizado obtido com a mestra Dôra Guimarães. Ao vivo e a cores, ou ainda por este espaço.
O que vocês me dizem?
Fernandinha, Celina, Regina, Linda e eu, armados de uma coragem fenomenal, apresentamos, para abrir o Sarau, em forma de jogral, o poema Um Chamado João, que Carlos Drummond de Andrade escreveu e dedicou ao Rosa dois dias depois de seu encantamento. Antes disso, ouvimos pela voz do próprio Rosa, as frases que encerraram seu discurso de posse na ABL: "O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas".
Adoramos a experiência. Esperamos, agora, que ela tenha servido para incentivar nossos outros colegas a porem em prática o aprendizado obtido com a mestra Dôra Guimarães. Ao vivo e a cores, ou ainda por este espaço.
O que vocês me dizem?
terça-feira, 9 de junho de 2009
Compartilhando estórias
Caros, caras,
Gostaria de aproveitar este espaço para convidá-los a concretizarem aquela intenção manifestada de compartilhar as estórias que aprendemos e com que trabalhamos durante nossa oficina com a Dôra. Isto significa é claro dar continuidade às postagens no blogue e, ao mesmo tempo, relembrar e matar a saudade do grupo, enquanto as dividimos com todos os nossos amigos e interessados que acessam este endereço. O que vocês acham?
Também quero aproveitar para dar as boas vindas para a Kate Moraes, para o Vinicius e para a Welwitschia [minha amiga portuguesa de outros blogues], que estão entre os primeiros seguidores do blogue e pedir-lhes que se manifestem, contando suas próprias estórias preferidas, dizendo quem são, por que se cadastraram como seguidores, que tipo de estórias "curtem" e o que acham de nossa ideia.
Começo, então, por compartilhar a estória que recebi, e que não utilizei, como trabalho de final de curso. Ela foi contada de forma maravilhosa pelo Zé Maria no sarau de maio, após nosso batismo de fogo - meu, da Regina e da Fernandinha -, no Espaço Alberico. Aliás, o Zé Maria podia também aparecer por aqui para contar algumas de suas estórias. A que se segue é de Millôr Fernandes, faz parte das "Fábulas Fabulosas" e se intitula A Aventura.
Parco de Alcântara nunca teve uma aventura amorosa. O que era natural. Nasceu baixo e nasceu feio. Cresceu feio e baixo. À proporção que os anos passavam tornava-se mais feio e mais baixo. O complexo dominava-o, a voz lhe fugia. Tentou um ou outro caso sentimental, sempre, naturalmente, escolhendo também mulheres baixas e feias, mas nada conseguiu. Era demasiado baixo e feio. Com o tempo ficou, além de feio, calvo. Além de calvo, míope, teve que usar óculos, grossos, feios. E sobreveio-lhe uma anemia que lhe amarelava a pele, tornando-o, se possível, ainda mais feio.
Eis, porém, que uma noite, já horas tardias, andava ele lentamente por um dos bairros residenciais grã-finos da cidade, quando, de uma janela num segundo andar, uma mulher que lhe pareceu jovem e linda, chamou-o. Parco de Alcântara duvidou que fosse com ele. Olhou para trás, vendo se havia alguém na rua, embora soubesse de antemão que não havia ninguém. Fixou a vista, fez gesto de quem pergunta: "Eu?" A mulher, esvoaçante no seu baby-doll transparente, respondeu sussurrando, da janela: "O senhor, sim! Suba aqui, por favor." Parco, o sangue queimando-lhe as faces, sentiu uma tremedeira, mas não hesitou. Subiu pelas escadas do edifício, sem sequer esperar pelo elevador. Ia pensando em notícias de jornais que falam de casos estranhos, moças grã-finas que... senhoras ricas que... essa gente rica é tão estranha no seu comportamento... tão cansada de tudo que... quando chegou ao segundo andar estava quase morto. De emoção e da pressa com que subira a escada. À porta do apartamento a mulher já o esperava e era realmente linda. Não devia ter mais de vinte e dois anos. Fez um sinal para ele, pedindo silêncio, disse baixinho: "O senhor é um anjo". Pegou-lhe na mão, conduziu-o através de alguns aposentos mobiliados com o mais fino gosto, levando-o diretamente ao quarto de dormir. Deitada na cama estava uma menina de dois ou três anos, com os olhos vermelhos de chorar. Encolheu-se ao ver Parco de Alcântara e mais ainda quando a linda senhora disse: "Está vendo? Mamãe não disse? Se você não parar de chorar imediatamente o Papão vai lhe comer".
Esta é a primeira, que entrou por uma porta e saiu pela outra. Quem se habilita a postar outra?
Gostaria de aproveitar este espaço para convidá-los a concretizarem aquela intenção manifestada de compartilhar as estórias que aprendemos e com que trabalhamos durante nossa oficina com a Dôra. Isto significa é claro dar continuidade às postagens no blogue e, ao mesmo tempo, relembrar e matar a saudade do grupo, enquanto as dividimos com todos os nossos amigos e interessados que acessam este endereço. O que vocês acham?
Também quero aproveitar para dar as boas vindas para a Kate Moraes, para o Vinicius e para a Welwitschia [minha amiga portuguesa de outros blogues], que estão entre os primeiros seguidores do blogue e pedir-lhes que se manifestem, contando suas próprias estórias preferidas, dizendo quem são, por que se cadastraram como seguidores, que tipo de estórias "curtem" e o que acham de nossa ideia.
Começo, então, por compartilhar a estória que recebi, e que não utilizei, como trabalho de final de curso. Ela foi contada de forma maravilhosa pelo Zé Maria no sarau de maio, após nosso batismo de fogo - meu, da Regina e da Fernandinha -, no Espaço Alberico. Aliás, o Zé Maria podia também aparecer por aqui para contar algumas de suas estórias. A que se segue é de Millôr Fernandes, faz parte das "Fábulas Fabulosas" e se intitula A Aventura.
Parco de Alcântara nunca teve uma aventura amorosa. O que era natural. Nasceu baixo e nasceu feio. Cresceu feio e baixo. À proporção que os anos passavam tornava-se mais feio e mais baixo. O complexo dominava-o, a voz lhe fugia. Tentou um ou outro caso sentimental, sempre, naturalmente, escolhendo também mulheres baixas e feias, mas nada conseguiu. Era demasiado baixo e feio. Com o tempo ficou, além de feio, calvo. Além de calvo, míope, teve que usar óculos, grossos, feios. E sobreveio-lhe uma anemia que lhe amarelava a pele, tornando-o, se possível, ainda mais feio.
Eis, porém, que uma noite, já horas tardias, andava ele lentamente por um dos bairros residenciais grã-finos da cidade, quando, de uma janela num segundo andar, uma mulher que lhe pareceu jovem e linda, chamou-o. Parco de Alcântara duvidou que fosse com ele. Olhou para trás, vendo se havia alguém na rua, embora soubesse de antemão que não havia ninguém. Fixou a vista, fez gesto de quem pergunta: "Eu?" A mulher, esvoaçante no seu baby-doll transparente, respondeu sussurrando, da janela: "O senhor, sim! Suba aqui, por favor." Parco, o sangue queimando-lhe as faces, sentiu uma tremedeira, mas não hesitou. Subiu pelas escadas do edifício, sem sequer esperar pelo elevador. Ia pensando em notícias de jornais que falam de casos estranhos, moças grã-finas que... senhoras ricas que... essa gente rica é tão estranha no seu comportamento... tão cansada de tudo que... quando chegou ao segundo andar estava quase morto. De emoção e da pressa com que subira a escada. À porta do apartamento a mulher já o esperava e era realmente linda. Não devia ter mais de vinte e dois anos. Fez um sinal para ele, pedindo silêncio, disse baixinho: "O senhor é um anjo". Pegou-lhe na mão, conduziu-o através de alguns aposentos mobiliados com o mais fino gosto, levando-o diretamente ao quarto de dormir. Deitada na cama estava uma menina de dois ou três anos, com os olhos vermelhos de chorar. Encolheu-se ao ver Parco de Alcântara e mais ainda quando a linda senhora disse: "Está vendo? Mamãe não disse? Se você não parar de chorar imediatamente o Papão vai lhe comer".
Esta é a primeira, que entrou por uma porta e saiu pela outra. Quem se habilita a postar outra?
terça-feira, 2 de junho de 2009
Maristela Guedes na Ciranda
Caros, caras,
para continuar a brincadeira a nova postagem nos foi oferecida por Maristela Guedes [obrigado, Maristela] e é parte de uma estória maior que se chama "Maria e o Rei dos Peixes". Vamos a ela.
Maria era uma entre oito irmãos e muitos primos. Morava na capital, mas tinha suas férias garantidas no interior, o que tornava a infância mais feliz e menos cercada de adultos controladores.
Este é um trecho que conta um pedacinho desta história que virou estória:
...Nas férias, um pouco de praia e depois, Cordisburgo. Agora, na casa que tinha sido de Vovó. Ela tinha um crucifixo na parede do quarto. Quando a gente apagava a luz, o Jesus crucificado brilhava.
No tempo de manga, o rosto ficava com aquela cor amarelada em volta da boca, desde a manhã até a hora do banho. E era goiaba, ameixa (roubada no lote vizinho) e cajá. A lei da fruta no pé era a seguinte: viu primeiro, apontou: “aquela é minha!”, é dono! Ninguém se atrevia a quebrar a regra, sob pena de o grupo todo ficar contra ele. E também porque abria um precedente...
No mato, era pequi, araticum e cajuzinho do mato, colhido debaixo de chuva fininha, com Papai. E tinha também aquele abacaxizinho, ananás. E jatobá, com cheiro de roupa que secou no quarto fechado.
O Pai conhecia tudo no mato: cagaita, que se comesse quente de sol, dava piriri, mas era só tomar o chá feito da casca da cagaiteira que sarava. E mangaba, que se a gente mastigasse os carocinhos um tempo, virava chicletes. No tronco da mangabeira, Papai dava um corte e colhia um leite, que virava borracha. Aí, fazia uma bola, que quando batia no chão, pulava alto!
Ele enchia o carro com a meninada, até no porta-malas, pra andar no mato ou nadar no córrego. A prima Silmara tinha sempre um machucado pra levar de lembrança das férias. Desta vez, foi um pedaço de pau que entrou na canela, uma ferpa gigante, do tamanho da metade de um dedo mindinho! Ficou dias lá, inflamando, sem ninguém saber, até resolver sair por si só, já em BH.
Lugar bom para as horas de ficar sozinha é em cima de árvore. No galho mais alto possível, onde as mangas dão alaranjadinhas!... Olhar pra baixo e ver tudo de longe, sem ser vista. Pensar coisa atôa, até perder o fio do pensamento...
(“E se naquele dia o menino tivesse falado com a própria boca, como ia ser? A gente aprende que verão é estação de sol, mas sempre chove, desde o Natal... No ano 2.000 eu vou fazer 37 anos. Como será que eu vou ser? Faltam duas semanas pra acabarem as férias... Psicóloga! É isso que eu quero ser. Mas o que é que uma psicóloga faz? Eu não conheço nenhuma... Será que vai ter Barraquinha? Não, é só nas férias de Julho. Faz tanto frio na Barraquinha! Mas é bom, tem parque e correio elegante, é engraçado. Vou pedir Tio Gabriel pra me deixar atirar de espingardinha de chumbo. Posso ser artista, também.. Mas artista desenhista é trabalho?...”)
Em cima de árvore é bom pra brincar, também: no pé de manga-pequi, cada um tinha um “apartamento”, com fios e ganchinhos para comunicação de segredos. (Bilhetinhos escritos em códigos de desenhos, que duravam até depois das férias, em cartinhas custooosas de escrever... E cigarrinhos de talos de chuchu, e pasta de dente pra despistar o cheiro na boca.)
Debaixo da árvore era guisado: comidinha feita em fogão de tijolos. Arroz empapado, com gosto de fumaça, batata encharcada em gordura, feijão, que já vinha pronto do fogão de lenha de verdade... porque feijão demora um dia inteiro pra cozinhar, Mamãe falava. Carne picadinha e frita, bem molhadinha. E tomate picadinho - Maria picava: uma delícia!
Bonito, de noite, era ouvir os tios cantando canções antigas. Com violão acompanhando. Eles cantando e a gente lá, quietinho, só escutando... As canções falavam de um tempo loonge :
“Eu era feliz e não sabia...”
E de um primeiro amor que “tão cedo acabou, só a dor deixou...”. A gente sentia uma espécie de saudade, sem saber direito do quê... Principalmente quando eles cantavam:
“Eu não sei pra quê que a gente cresce...”
O maior segredo e a maior aventura era atravessar o Pontilhão. Sempre quando estavam lá no meio, um dos meninos gritava: “Invém o trem!!” Aí, todo mundo corria de volta, dando um trabalhão pros Anjos-da-Guarda, que se confundiam e, na dúvida, cada um segurava quem estivesse mais perto...
Na volta, passar pela rua da estação e brincar de escorregador no corrimão da escadaria, encerada de vermelho. Depois entrar no Museu, logo ali, pra beber água, ir ao banheiro, pegar jabuticaba, se era tempo delas, olhar com medo o quarto da vovó Xiquinha e ver aqueles lápis com pontas enormes, feitas pelo próprio Guimarães Rosa, que tinha aquela máquina de escrever pesadona, muito antiga, gostava de bois e cavalos e usava gravata borboleta, feito menino pequeno...
para continuar a brincadeira a nova postagem nos foi oferecida por Maristela Guedes [obrigado, Maristela] e é parte de uma estória maior que se chama "Maria e o Rei dos Peixes". Vamos a ela.
Maria era uma entre oito irmãos e muitos primos. Morava na capital, mas tinha suas férias garantidas no interior, o que tornava a infância mais feliz e menos cercada de adultos controladores.
Este é um trecho que conta um pedacinho desta história que virou estória:
...Nas férias, um pouco de praia e depois, Cordisburgo. Agora, na casa que tinha sido de Vovó. Ela tinha um crucifixo na parede do quarto. Quando a gente apagava a luz, o Jesus crucificado brilhava.
No tempo de manga, o rosto ficava com aquela cor amarelada em volta da boca, desde a manhã até a hora do banho. E era goiaba, ameixa (roubada no lote vizinho) e cajá. A lei da fruta no pé era a seguinte: viu primeiro, apontou: “aquela é minha!”, é dono! Ninguém se atrevia a quebrar a regra, sob pena de o grupo todo ficar contra ele. E também porque abria um precedente...
No mato, era pequi, araticum e cajuzinho do mato, colhido debaixo de chuva fininha, com Papai. E tinha também aquele abacaxizinho, ananás. E jatobá, com cheiro de roupa que secou no quarto fechado.
O Pai conhecia tudo no mato: cagaita, que se comesse quente de sol, dava piriri, mas era só tomar o chá feito da casca da cagaiteira que sarava. E mangaba, que se a gente mastigasse os carocinhos um tempo, virava chicletes. No tronco da mangabeira, Papai dava um corte e colhia um leite, que virava borracha. Aí, fazia uma bola, que quando batia no chão, pulava alto!
Ele enchia o carro com a meninada, até no porta-malas, pra andar no mato ou nadar no córrego. A prima Silmara tinha sempre um machucado pra levar de lembrança das férias. Desta vez, foi um pedaço de pau que entrou na canela, uma ferpa gigante, do tamanho da metade de um dedo mindinho! Ficou dias lá, inflamando, sem ninguém saber, até resolver sair por si só, já em BH.
Lugar bom para as horas de ficar sozinha é em cima de árvore. No galho mais alto possível, onde as mangas dão alaranjadinhas!... Olhar pra baixo e ver tudo de longe, sem ser vista. Pensar coisa atôa, até perder o fio do pensamento...
(“E se naquele dia o menino tivesse falado com a própria boca, como ia ser? A gente aprende que verão é estação de sol, mas sempre chove, desde o Natal... No ano 2.000 eu vou fazer 37 anos. Como será que eu vou ser? Faltam duas semanas pra acabarem as férias... Psicóloga! É isso que eu quero ser. Mas o que é que uma psicóloga faz? Eu não conheço nenhuma... Será que vai ter Barraquinha? Não, é só nas férias de Julho. Faz tanto frio na Barraquinha! Mas é bom, tem parque e correio elegante, é engraçado. Vou pedir Tio Gabriel pra me deixar atirar de espingardinha de chumbo. Posso ser artista, também.. Mas artista desenhista é trabalho?...”)
Em cima de árvore é bom pra brincar, também: no pé de manga-pequi, cada um tinha um “apartamento”, com fios e ganchinhos para comunicação de segredos. (Bilhetinhos escritos em códigos de desenhos, que duravam até depois das férias, em cartinhas custooosas de escrever... E cigarrinhos de talos de chuchu, e pasta de dente pra despistar o cheiro na boca.)
Debaixo da árvore era guisado: comidinha feita em fogão de tijolos. Arroz empapado, com gosto de fumaça, batata encharcada em gordura, feijão, que já vinha pronto do fogão de lenha de verdade... porque feijão demora um dia inteiro pra cozinhar, Mamãe falava. Carne picadinha e frita, bem molhadinha. E tomate picadinho - Maria picava: uma delícia!
Bonito, de noite, era ouvir os tios cantando canções antigas. Com violão acompanhando. Eles cantando e a gente lá, quietinho, só escutando... As canções falavam de um tempo loonge :
“Eu era feliz e não sabia...”
E de um primeiro amor que “tão cedo acabou, só a dor deixou...”. A gente sentia uma espécie de saudade, sem saber direito do quê... Principalmente quando eles cantavam:
“Eu não sei pra quê que a gente cresce...”
O maior segredo e a maior aventura era atravessar o Pontilhão. Sempre quando estavam lá no meio, um dos meninos gritava: “Invém o trem!!” Aí, todo mundo corria de volta, dando um trabalhão pros Anjos-da-Guarda, que se confundiam e, na dúvida, cada um segurava quem estivesse mais perto...
Na volta, passar pela rua da estação e brincar de escorregador no corrimão da escadaria, encerada de vermelho. Depois entrar no Museu, logo ali, pra beber água, ir ao banheiro, pegar jabuticaba, se era tempo delas, olhar com medo o quarto da vovó Xiquinha e ver aqueles lápis com pontas enormes, feitas pelo próprio Guimarães Rosa, que tinha aquela máquina de escrever pesadona, muito antiga, gostava de bois e cavalos e usava gravata borboleta, feito menino pequeno...
sábado, 30 de maio de 2009
Histórias/Estórias
Queridos,
encontrei e quero compartilhar com vocês, um pequeno texto do Rubem Alves que tem tudo a ver com a criação e a escolha do nome do nosso blog ( Ciranda de Estórias ) :
" Na história as coisas aconteceram uma vez para não acontecerem mais. Nas estórias as coisas não aconteceram nunca para acontecerem sempre . O que não aconteceu nunca, aquilo que só foi sonhado, é aquilo que sempre existiu e que sempre existirá, que nem nasceu, nem morrerá, e a cada vez que se conta acontece de novo..."
encontrei e quero compartilhar com vocês, um pequeno texto do Rubem Alves que tem tudo a ver com a criação e a escolha do nome do nosso blog ( Ciranda de Estórias ) :
" Na história as coisas aconteceram uma vez para não acontecerem mais. Nas estórias as coisas não aconteceram nunca para acontecerem sempre . O que não aconteceu nunca, aquilo que só foi sonhado, é aquilo que sempre existiu e que sempre existirá, que nem nasceu, nem morrerá, e a cada vez que se conta acontece de novo..."
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Vai, vai, vai começar a brincadeira
Caros, caras,
A criação deste blogue é meu presente de aniversário [meu aniversário é hoje] a todos quantos "curtem" ouvir e contar uma "estória". A partir de agora, o espaço está liberado para quem quer que se habilite a narrar uma estória. Qualquer uma que lhe tenha marcado a infância, que lhe traga uma bela lembrança de um tempo que já passou. Ou que ainda tenha significado para si no presente. Ou que acredite ter algo a comunicar para ajudar a construir um futuro mais livre. Mais cheio de imaginação. Mais cheio de alegria. Mais autêntico. Mais solto. Um mundo onde cada um possa ser o que é, sem medo de ser feliz. Sem medo de viver a alegria. Sem medo de partilhá-la.
É conhecido o ditado "quem conta um conto aumenta um ponto", mas a ideia aqui é deixar viajar a imaginação, com a liberdade que só as crianças exercitam, enquanto ainda não contaminadas por este mundo de enganos em que nos deixamos mergulhar. Ou atores, escritores, autores e pessoas que não deixaram morrer a criança interior e ainda conseguem brincar e criar com a alegria da criança. Então, para começar nossa brincadeira, vamos fazer um exercício? Vamos, como Clarice Lispector, pensar a respeito do que faríamos se fôssemos nós mesmos? Que mundo criaríamos para viver? Ele seria diferente deste aonde vivemos hoje? Como?
A "estória" que ela nos conta [e que se oferece para que contemos] se chama Se Eu Fosse Eu e está no livro A Descoberta do Mundo. Diz assim:
Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.
E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? não sei.
Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.
"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor também, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legitima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.
E viva o exercício da imaginação. Que tal a "estória"? Entrou por uma porta e saiu pela outra?
Quem quiser que conte outra.
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