Caros, caras,
Gostaria de aproveitar este espaço para convidá-los a concretizarem aquela intenção manifestada de compartilhar as estórias que aprendemos e com que trabalhamos durante nossa oficina com a Dôra. Isto significa é claro dar continuidade às postagens no blogue e, ao mesmo tempo, relembrar e matar a saudade do grupo, enquanto as dividimos com todos os nossos amigos e interessados que acessam este endereço. O que vocês acham?
Também quero aproveitar para dar as boas vindas para a Kate Moraes, para o Vinicius e para a Welwitschia [minha amiga portuguesa de outros blogues], que estão entre os primeiros seguidores do blogue e pedir-lhes que se manifestem, contando suas próprias estórias preferidas, dizendo quem são, por que se cadastraram como seguidores, que tipo de estórias "curtem" e o que acham de nossa ideia.
Começo, então, por compartilhar a estória que recebi, e que não utilizei, como trabalho de final de curso. Ela foi contada de forma maravilhosa pelo Zé Maria no sarau de maio, após nosso batismo de fogo - meu, da Regina e da Fernandinha -, no Espaço Alberico. Aliás, o Zé Maria podia também aparecer por aqui para contar algumas de suas estórias. A que se segue é de Millôr Fernandes, faz parte das "Fábulas Fabulosas" e se intitula A Aventura.
Parco de Alcântara nunca teve uma aventura amorosa. O que era natural. Nasceu baixo e nasceu feio. Cresceu feio e baixo. À proporção que os anos passavam tornava-se mais feio e mais baixo. O complexo dominava-o, a voz lhe fugia. Tentou um ou outro caso sentimental, sempre, naturalmente, escolhendo também mulheres baixas e feias, mas nada conseguiu. Era demasiado baixo e feio. Com o tempo ficou, além de feio, calvo. Além de calvo, míope, teve que usar óculos, grossos, feios. E sobreveio-lhe uma anemia que lhe amarelava a pele, tornando-o, se possível, ainda mais feio.
Eis, porém, que uma noite, já horas tardias, andava ele lentamente por um dos bairros residenciais grã-finos da cidade, quando, de uma janela num segundo andar, uma mulher que lhe pareceu jovem e linda, chamou-o. Parco de Alcântara duvidou que fosse com ele. Olhou para trás, vendo se havia alguém na rua, embora soubesse de antemão que não havia ninguém. Fixou a vista, fez gesto de quem pergunta: "Eu?" A mulher, esvoaçante no seu baby-doll transparente, respondeu sussurrando, da janela: "O senhor, sim! Suba aqui, por favor." Parco, o sangue queimando-lhe as faces, sentiu uma tremedeira, mas não hesitou. Subiu pelas escadas do edifício, sem sequer esperar pelo elevador. Ia pensando em notícias de jornais que falam de casos estranhos, moças grã-finas que... senhoras ricas que... essa gente rica é tão estranha no seu comportamento... tão cansada de tudo que... quando chegou ao segundo andar estava quase morto. De emoção e da pressa com que subira a escada. À porta do apartamento a mulher já o esperava e era realmente linda. Não devia ter mais de vinte e dois anos. Fez um sinal para ele, pedindo silêncio, disse baixinho: "O senhor é um anjo". Pegou-lhe na mão, conduziu-o através de alguns aposentos mobiliados com o mais fino gosto, levando-o diretamente ao quarto de dormir. Deitada na cama estava uma menina de dois ou três anos, com os olhos vermelhos de chorar. Encolheu-se ao ver Parco de Alcântara e mais ainda quando a linda senhora disse: "Está vendo? Mamãe não disse? Se você não parar de chorar imediatamente o Papão vai lhe comer".
Esta é a primeira, que entrou por uma porta e saiu pela outra. Quem se habilita a postar outra?
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