sábado, 30 de maio de 2009

Histórias/Estórias

Queridos,



encontrei e quero compartilhar com vocês, um pequeno texto do Rubem Alves que tem tudo a ver com a criação e a escolha do nome do nosso blog ( Ciranda de Estórias ) :



" Na história as coisas aconteceram uma vez para não acontecerem mais. Nas estórias as coisas não aconteceram nunca para acontecerem sempre . O que não aconteceu nunca, aquilo que só foi sonhado, é aquilo que sempre existiu e que sempre existirá, que nem nasceu, nem morrerá, e a cada vez que se conta acontece de novo..."

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Vai, vai, vai começar a brincadeira


Caros, caras,

A criação deste blogue é meu presente de aniversário [meu aniversário é hoje] a todos quantos "curtem" ouvir e contar uma "estória". A partir de agora, o espaço está liberado para quem quer que se habilite a narrar uma estória. Qualquer uma que lhe tenha marcado a infância, que lhe traga uma bela lembrança de um tempo que já passou. Ou que ainda tenha significado para si no presente. Ou que acredite ter algo a comunicar para ajudar a construir um futuro mais livre. Mais cheio de imaginação. Mais cheio de alegria. Mais autêntico. Mais solto. Um mundo onde cada um possa ser o que é, sem medo de ser feliz. Sem medo de viver a alegria. Sem medo de partilhá-la.

É conhecido o ditado "quem conta um conto aumenta um ponto", mas a ideia aqui é deixar viajar a imaginação, com a liberdade que só as crianças exercitam, enquanto ainda não contaminadas por este mundo de enganos em que nos deixamos mergulhar. Ou atores, escritores, autores e pessoas que não deixaram morrer a criança interior e ainda conseguem brincar e criar com a alegria da criança. Então, para começar nossa brincadeira, vamos fazer um exercício? Vamos, como Clarice Lispector, pensar a respeito do que faríamos se fôssemos nós mesmos? Que mundo criaríamos para viver? Ele seria diferente deste aonde vivemos hoje? Como?

A "estória" que ela nos conta [e que se oferece para que contemos] se chama Se Eu Fosse Eu e está no livro A Descoberta do Mundo. Diz assim:

Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? não sei.

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.

"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor também, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legitima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.

E viva o exercício da imaginação. Que tal a "estória"? Entrou por uma porta e saiu pela outra?
Quem quiser que conte outra.